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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Nossa Missão


“...Minha intenção é ruim, esvazia o lugar!
...Eu tenho uma missão e não vou parar!
...Vim pra sabotar seu raciocínio!
...Vim pra abalar o seu sistema nervoso e sanguíneo!”
Racionais mc`s
“Eu não vim explicar, eu vim confundir!”
Chacrinha
“não vim trazer paz, mas espada. Mateus 10:34-36”
Jesus
Se não sei quem sou, como posso saber qual é minha missão?
Se estamos aqui em um grupo numa favela, somos de uma etnia que não branca, significa que somos a minoria política.
E quando se está perdido qualquer caminho serve? Esquerda, direita, centro?
Um pouco de história:
O povoamento do Brasil se deu em três partes:
1_ do extermínio e estupro dos índios
“...das práticas da sexualidade e da servidão no Brasil. O corpo feminino deveria servir ao português. Miscigenar, verbo muito utilizado para explicar essa mistura, tinha o objetivo de juntar sexualmente corpos de raças e etnias diferentes, em condições sociais igualmente diferentes. Muitas vezes isso aconteceu à força, sendo que os estupros eram comuns naquele tempo. Ao homem português era dado o direito de usufruir da vida de todos os habitantes da colônia. Esse direito ocorria devido à sua condição de “senhor” da família patriarcal. Aliás, é oportuno explicitar aqui que família vem da palavra latina“famulus” que significa escravos domésticos de um mesmo senhor: mulheres, filhos, crianças, escravos, terras, etc
2_ trabalho escravo:
”... a força de trabalho escrava tenha sido à base da economia brasileira até fins do século XIX,”
3_ homem livre pobre
“... a plantagem requeria a intervenção de um pequeno número de trabalhadores qualificados, mas desde o início deste século existia no Nordeste uma mão-de-obra excedente formada pelos homens livres pobres, os quais viviam como agregados, moradores, meeiros, rendeiros, etc.
O homem livre pobre vivia na dependência dos senhores de engenhos. Esses homens que viviam nos engenhos, por concessão dos proprietários, formavam uma elevada percentagem da população rural livre do Nordeste, e eles normalmente eram mestiços.”
(...)“As pessoas enviadas para as colônias não recebiam um estatuto de proletário; serviam de quadros, de agentes de administração, de instrumentos de vigilância e de controle dos colonizados. E era sem dúvida para evitar que entre esses "pequenos brancos" e os colonizados se estabelecesse uma aliança, que teria sido ai tão perigosa quanto a unidade proletária na Europa, que se fornecia a eles uma sólida ideologia racista.”(...) Emília Viotti da Costa.
Olhemos para o nosso grupo e vejamos do que somos compostos?
Pergunto a quem servimos? A nós mesmos, ou somos levados por ideologias prontas e impostas sem que percebamos, partidos políticos e etc.? Nossa missão é copiar a forma organizacional, burocrática e ineficiente burguesa. Ou pensar numa nova forma de se pensar a favela, sua realidade e sua necessidade, a partir de instrumentos que não existem. Uma vez que a realidade na qual estamos inseridos e a qual pertencemos não foi pensada pelo modelo que ora queremos copiar.
Temos real entendimento dos conceitos que usamos? Os conceitos que lançamos mão dizem respeito a nossa realidade operaria ou repetimos jargões liberais? Que pregam que a massa não anda sem uma cabeça e que para andar é preciso um líder, se acreditarmos que somos uma liderança nesta favela, apoiamos o conceito liberal. Então nos diremos pelo social, mas fazendo uso de ferramentas, e pior ainda crenças, liberais.
Estaremos a serviço do neoliberalismo sem nos darmos conta, estaremos contribuindo para a manutenção do sistema que pensamos estar destruindo.
Quem somos?
Um grupo perene de intelectuais de favela e não sazonais pensadores de favela
O que fazemos?
Pensamos, a partir do nosso olhar, a favela, nossa vivencia e nossos problemas, como moradores, militantes e atuantes.
Para quem?
Pensamos em nós mesmos e para nós. E para mais 20% da população do Rio de janeiro, que somam 1.092.783 de pessoas que vivem em favelas.
Acreditamos que os diferentes devem ser tratados de maneira diferente.
A democracia é feita de diferentes. Assim como o estado defende interesses próprios devemos defender os nossos, isso é regra do jogo democrático.
Devemos sair da posição de coitados e parar de esperar pela tutela e proteção do estado. Devemos aceitar o fato e realizar em nossas mentes que somos cidadãos.
Devemos marcar a nossa posição como diferentes, estamos inseridos na cidade formal e daí? Como o que?
Devemos propor e dirigir as propostas ao estado. O estado é grande e tem grandes preocupações. Não tem competência nem habilidade para lidar com problemas deste setor especifico que é a favela.
Nossa missão é propor ao estado políticas ao nosso interesse e necessidade.

por Fernando Ermiro